SHIODA SENSEI


Quem assiste a uma demonstração de aikido de Gozo Shioda quase sempre se emociona com a experiência e está pronto para entrar em um dojo de aikido sem precisar que ninguém insista

Por Stanley Pranin Aikido Journal

Quando se fala de demonstrar o aikido ao público em geral de uma maneira atraente e de fácil compreensão, Gozo Shioda é o maior. Ele junta uma análise lúcida da teoria do aikido com uma técnica firme e com um grande senso de humor.

Quem assiste a uma demonstração de aikido de Gozo Shioda quase sempre se emociona com a experiência e está pronto para entrar em um dojo de aikido sem precisar que ninguém insista. Além disso, Shioda nunca deixa de dar valor a quem merece e sempre menciona seu professor, Morihei Ueshiba, e o fato de que o aikido se desenvolveu a partir das técnicas do Daito-ryu aikijujutsu.

Vamos examinar a carreira desta personalidade interessante, que dirige a organização mundial Yoshinkan Aikido, e a quem o mundo do aikido deve muito. Felizmente, ao escrevermos sobre Gozo Shioda, tivemos a vantagem de podermos consultar sua autobiografia recentemente publicada, chamada “Aikido Jinsei” (Takeuchi Shoten Shinsha).

Isso, e o fato de ele ser uma pessoa muito acessível, nos permitiu chegar a uma imagem mais clara de sua carreira. Segundo filho de um conhecido pediatra, Seiichi Shioda, Gozo nasceu em Tokyo em 9 de Setembro de 1915.

Tendo sido uma criança pequena e doentia, Shioda acreditava que sua sobrevivência se deveu às habilidades medicas de seu pai.






O jovem Gozo teve uma educação privilegiada, sob a diretriz de seu pai, que tinha um forte temperamento.

Seu destino, com o encontro com Morihei Ueshiba, o fundador do aikido, ocorreu da seguinte maneira.
O Sr. Munetaka Abe, diretor da escola freqüentada por Gozo, ficou impressionado pela notável atitude mental de uma jovem, a Srta. Takako Kunigoshi, que limpava um santuário nas proximidades todas as manhãs. Quando lhe perguntou sobre sua atitude exemplar, ela disse que devia isso a seu professor de “aikijujutsu”, e sugeriu que ele assistisse a uma aula. Muito impressionado pelo que viu no Ueshiba Dojo, que ficava perto, o Sr. Abe insistiu com o pai de Gozo para que ele matriculasse seu filho lá.

No dia 23 de maio de 1932, com 17 anos, Gozo foi ao Ueshiba dojo para assistir a uma demonstração.

Tendo tido bastante experiência em kendo e em judo, o confiante jovem Shioda estava cético quanto às técnicas simples e controladas que viu. Percebendo que o jovem não estava impressionado, Ueshiba o convidou a atacá-lo, e num piscar de olhos, o jovem se viu caído de costas, coçando a cabeça após uma tentativa frustrada de dar um chute.

Em aikido, “ver é acreditar”, e Shioda imediatamente se decidiu a entrar para o dojo. Como ele precisava de duas indicações para se registrar, seu pai e o Sr. Abe lhe deram cartas de recomendação. Naquela época, havia cerca de vinte uchideshi no Ueshiba Dojo, e eles tinham uma agenda rigorosa, com aulas começando às cinco da manhã e terminando às nove da noite.

Deve ter sido emocionante para o jovem Shioda se tornar parte deste dojo em que estavam treinando diversos artistas marciais habilidosos, e aonde compareciam com freqüência diversas pessoas de altas classes sociais.

Morihei Ueshiba era muito ativo neste ponto de sua carreira e dava aulas em seu Kobukan Dojo em Shinjuku e também no instituto militar Nakano, na escola de Policia Militar, e na escola do Exército Toyama, entre outros lugares. Por esta razão, ele não precisava buscar alunos entre o público geral, e a ênfase no Kobukan era o treinamento e o desenvolvimento dos uchideshi. Tecnicamente falando, o “Aiki Budo” de Ueshiba nesta época estava na fase de transição, entre o Daito-ryu aikijujutsu e o moderno aikido.
Como resultado disso, as técnicas eram muito mais numerosas, de aparência mais linear e aplicadas com grande vigor. Além disso, ainda eram usadas técnicas de imobilização muito complexas (osaewaza).


O jovem Gozo ainda era estudante de segundo grau nesta época, e, no início, participava apenas das aulas matutinas, tendo que acordar às 4 da manhã. Posteriormente, com a preocupação de seu pai com seu futuro, Gozo buscou uma “vida de aventuras” participando da “reconstrução” da Mongólia. Como parte de sua preparação para os anos duros que teria pela frente, ele decidiu se afastar da escola por um período de dois anos, para se devotar integralmente ao treinamento de aikido. Assim, ele continuou a praticar aikido enquanto era estudante na Universidade Takushoku até sua partida para o serviço militar em Março de 1941.

Shioda passou a maior parte da guerra na China, começando como secretario do General Shunroku Hata em Beijing, e mais de uma vez viu de perto a morte. A autobiografia de Shioda cobre este período, e é uma leitura excitante.
Por volta de Setembro de 1946, poucos meses antes de ser liberado do exército imperial, Shioda passou várias semanas em treinamento intensivo e praticando agricultura na casa de Ueshiba, que tinha se retirado para Iwama, na Prefeitura de Ibaragi, durante o início da guerra. Ainda jovem, e tendo seu mestre aparentemente se aposentado, Shioda retornou a Tokyo, e como a maioria do povo, lutou para seguir com sua vida, no Japão que sofria com a pobreza.



INICIO YOSHINKAN


Em 1950, o destino fez com que Shioda fosse convidado para trabalhar na guarda do complexo de Tsurumi, da companhia de aço Nihon Kokan no início da “limpeza vermelha” e juntou 55 dos membros mais fortes dos clubes de kendo, judo e sumo de sua Universidade Takushoku.
Com isso, ele foi convidado a ensinar aikido em diversas áreas da companhia a partir de 1952. Ele também fez diversas demonstrações em departamentos de policia no início da década de 1950.
Uma grande demonstração de aikido em 1954 acabou sendo um evento importante, em Tokyo, patrocinada pela Associação Life Extension, da qual participaram cerca de 15.000 pessoas.

A apresentação de Shioda teve grande receptividade do grande público e aos poucos a nova organização Yoshinkan de Aikido começou a ter proeminência. Além disso, nessa época as atividades de Shioda se tornaram famosas, conhecidas de muitos membros do mundo dos negócios. Em especial, um certo Sr. Kudo, chefe do banco Tomin veio em auxílio da Yoshinkan e apoiou a constrição de um dojo.
O prédio Tsukudo Hachiman foi aberto ao publico em 1955. A partir deste modesto começo, o Yoshinkan Aikido gradualmente se espalhou por todo o Japão e para paises estrangeiros, especialmente os E.U.A. para a Europa.
Atualmente é a segunda maior organização de aikido com centenas de dojos associados em sua rede internacional. Neste ponto, seria útil fazermos um esclarecimento. O assunto de como o Yoshinkan Aikido se separou da Aikikai não é muito compreendido.

Quando Shioda começou suas atividades no aikido com grande ímpeto depois da guerra, Morihei Ueshiba ainda estava em seu retiro em Iwama e as aulas no Aikikai dojo (anteriormente chamado de Kobukan) não eram constantes e tinham poucos alunos. Na verdade, diversas famílias desabrigadas devido ao bombardeio de Tokyo viviam no dojo.




Nesta época, ele era usado até como salão de baile! Foi nestas circunstâncias que Shioda foi bem sucedido desde o início e o Yoshinkan cresceu. Algum tempo depois, o Aikikai gradualmente começou a reencontrar um ritmo de crescimento, sob a direção do filho de Ueshiba, Kisshomaru, e o próprio fundador começou a passar cada vez mais tempo em Tokyo.

Assim, nunca ocorreu uma separação formal entre as duas organizações, apesar de seus diferentes modos de ver o aikido. Os dois grupos simplesmente evoluíram de forma independente, mantendo ligações mais ou menos cordiais.
Até hoje Shioda e Kisshomaru (este artigo foi escrito em 1994) fazem apresentações regulares em ocasiões formais. Shioda treinou com Ueshiba quando este estava em seu auge, com 50 anos e muito vigoroso.

Assim, as técnicas que ele aprendeu do fundador do aikido eram bastante diferentes das por Ueshiba ensinadas durante os anos do pós-guerra. Não é de surpreender que o Yoshinkan Aikido é claramente diferenciável do que é praticado pelo sistema do Aikikai, sob a liderança do filho de Ueshiba, o atual Aikido Doshu.


A discussão sobre em que momento a técnica de Morihei Ueshiba estava no seu auge, se antes ou depois da guerra, continua, e qualquer conclusão deve ter um caráter subjetivo. Mas não importando o lado em que se está nesse assunto, muitos certamente concordarão com a opinião expressada por Shioda em uma entrevista que foi publicada no “Aiki News” há vários anos:

“O aikido atual não tem dimensão. Ele é oco, vazio por dentro. As pessoas tentam atingir os níveis mais altos sem cumprir suas obrigações. É por isso que ele parece tanto com uma dança hoje em dia.

Você deve dominar o que é básico de maneira sólida, com seu corpo, e depois prosseguir para se desenvolver até um nível maior. …. Agora vemos apenas cópias e imitações sem nenhuma noção do que é verdadeiro


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